terça-feira, 20 de julho de 2010

Manual Ilustrado da Docência

Este texto é parcialmente baseado em trechos dos livros How to Teach Mathematics (Como Ensinar Matemática), de Steven Krantz, publicado em 1999 pela American Mathematical Society, e O Capelão do Diabo, de Richard Dawkins, publicado no Brasil em 2003, pela Companhia das Letras. O link que ofereço para o livro de Dawkins é transcrito de edição de 2003 da Scientific American Brasil.

Krantz não é um especialista em educação matemática. É tão somente um renomado analista, ou seja, um matemático profissional no sentido estrito do termo. No entanto, considero sua obra leitura obrigatória para qualquer profissional do ensino de matemática. E muito do que ele expõe é perfeitamente aplicável a docentes de outras áreas.

Quanto a Dawkins, trata-se de um zoólogo sul-africano que talvez seja o mais influente divulgador científico vivo. Aqui vão algumas das ideias destes dois importantes autores adaptadas para nossa realidade.


1) O professor deve minimizar a atenção de seus alunos sobre ele mesmo e maximizar a atenção sobre a matéria lecionada. Para isso deve usar roupas discretas, de acordo com o ambiente no qual leciona.


Por mais fascinante que seja o tema estudado, alunos ainda estão sujeitos a distrações. Afinal, os atos de estudar e discutir sobre os temas abordados demandam grande esforço. Por isso o docente deve ser cuidadoso com seu visual.


2) Além disso, o profissional do ensino deve ter em mente que sua linguagem corporal pode dizer mais do que palavras. Analogamente o docente deve estar atento a elementos básicos da linguagem corporal de seus pupilos.

Demonstrações de insegurança, indiferença, desprezo, raiva, angústia, depressão, desânimo, entre outros estados emocionais, podem afetar o desempenho dos discentes.



Por isso, o acompanhamento psicológico qualificado de professores e alunos é fundamental desde o maternal até a pós-graduação.


3) Diante da falta de recursos institucionais para acompanhamento psicológico competente, pelo menos noções básicas de linguagem corporal podem ser obtidas pelos docentes até mesmo na internet.

Lecionar com as mãos no bolso, por exemplo, pode ser inconscientemente assimilado pelos alunos como sinal de descaso do docente.
Já a carência de contato de olhos sobre um discente pode ser interpretada como falta de atenção. Por outro lado, o excesso de contato de olhos pode ser percebido como assédio.


4) Como estudos exigem grande esforço em termos de concentração, muitas vezes o professor se sente estimulado a fazer comentários sobre assuntos que não estão relacionados aos conteúdos lecionados, com o objetivo de oferecer um breve descanso aos alunos. Mas certos temas devem ser evitados, para não gerarem reações emocionais que prejudiquem o andamento das aulas.

Observações de caráter político ou religioso podem produzir reações de antipatia sobre o docente e também priorizar a posterior atenção voltada ao docente e não à matéria lecionada.
Comentários de caráter sexista ou misógino, ainda que feitos na forma de piadas aparentemente inocentes, também podem ser elementos de distração perigosos ao desenvolvimento intelectual de jovens.


5) Devemos ainda levar em conta as pressões institucionais que estimulam o preconceito em sala de aula, muitas delas já sedimentadas até mesmo em universidades.

Afinal, foram universidades estaduais e federais de nosso próprio país de realidades tão diversificadas que iniciaram a institucionalização de formas cada vez mais usuais de preconceito, com a criação de cotas para negros e estudantes de escolas públicas.


6) Professores, ao contrário de advogados, médicos, psicólogos e arquitetos, não têm código de ética devidamente documentado. Além disso, não contam com treinamento para lidar com certas situações corriqueiras em sala de aula. Por isso, eles devem exigir, das instituições de ensino, políticas internas bem definidas que suportem a prática de ensino.

A "cola", por exemplo, é uma forma de trapaça ou fraude contra o sistema de ensino e não contra um professor. Portanto, não compete ao docente a decisão sobre o quê fazer diante dessa grave irregularidade. É a reputação de uma instituição de ensino que está em jogo diante do caso de fraude escolar.


7) O professor deve perceber que ele é apenas uma célula do processo educacional.

Se não houver um diálogo eficiente entre todos os agentes envolvidos na educação (professores, escola, alunos, famílias, mercado de trabalho, governos), continuaremos nos submetendo a situações ridículas de inversão de papéis.


8) No entanto, o professor é uma célula vital. Enquanto agente educacional, o docente não pode ser substituído por mídias de educação em massa. A ele compete não apenas a discussão crítica de matemática, ciências, línguas, história, geografia, filosofia e artes, mas também o exemplo da conquista intelectual.

Não se deve aceitar o conhecimento sustentado pela autoridade ou tradição. Até mesmo o ensino religioso pode e deve ser realizado criticamente. A titulação de um docente deve se refletir apenas como qualificação que melhore a qualidade de suas aulas e não como discurso autoritário ou tradicional sobre aqueles que supostamente devem aprender.


E conhecimento crítico também descarta a revelação como forma de compreensão. O fato de alguém julgar que suas ideias são adequadas, não significa que realmente o sejam, em um contexto social tão amplo quanto a educação.


9) Professores devem também articular o diálogo com profissionais de diferentes áreas. A educação deve operar como uma rede. Devemos abandonar a ideia absurda de que a formação de futuros cidadãos ocorre por ascenção a degraus cada vez mais altos, sustentados em conhecimentos básicos.

O ensino de filosofia em nosso país, por exemplo, mesmo nas universidades, enfatiza uma abordagem ingenuamente histórica e não o pensamento crítico sobre diferentes áreas do saber.

10) Afinal, a realidade mundial é uma rede de interdependências sociais.

E as instituições de ensino devem estar antenadas a essa realidade. Como enfatiza Krantz, não devemos nos apoiar na ideia de que existe um único caminho otimizado para a prática da docência. O mundo é socialmente diversificado. E o perfil individual de cada aluno, cada professor, cada cidadão, é uma variável que deve ser levada em conta no processo educacional.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Breve História Ilustrada da Educação Brasileira

Fazemos aqui uma breve discussão dos princípios que norteiam a educação em nosso país:

1) Matemática, ciências e línguas são ensinadas dogmaticamente, por meio de mandamentos impostos liturgicamente por professores e autores. Exemplo:


Professores afirmam sem pensar: "Não dividirás por zero!"

2) A visão fragmentada de nosso sistema de ensino não permite que alunos percebam as relações existentes entre diferentes áreas do saber. E mesmo em uma área específica como matemática, cada tópico é tratado de maneira independente dos demais. Exemplo:


Ensina-se teoria de conjuntos nas escolas, mas alunos e professores não têm ideia da importância estratégica dessa disciplina tanto em matemática quanto em português, história, artes e ciências. Consequentemente, nossa visão de mundo é deficiente e esteticamente horrorosa.

3) Nossos alunos não são estimulados a pensar criticamente. São simplesmente moldados à imagem e semelhança de seus mestres, por métodos que nada mais são do que adestramento. Exemplo:


Em tom épico, sustentado institucional e socialmente, docentes propagam: "Faça como eu faço e tudo ficará bem!" A criatividade dos nossos jovens é esmagada.

4) Consequentemente, nossos alunos demonstram um nível intelectual que os torna praticamente incapazes de inserção em uma sociedade cada vez mais globalizada. Exemplo:


Temos um dos piores desempenhos no PISA, teste internacional de educação comparada. Mas ainda temos esperança de que nosso sistema educacional seja melhor do que o etíope.

5) Devido a essa infame realidade, não valorizamos propriedade intelectual. Afinal, não existe tradição brasileira de concepção de ideias. Exemplo:



O Brasil combate a pirataria de forma incipiente, a população sequer sabe o que é pirataria, e o uso de produtos falsos e ilegais é uma prática cultural mais do que aceita pela população. Afinal, por que desenvolver ideias, se outros países o fazem tão bem? Eu mesmo estou fazendo uso de imagens com copyright sem me preocupar. Afinal, sou brasileiro!


6) A língua inglesa é ostensivamente lecionada em nossas escolas, vivemos em constante contato com a cultura norte-americana, nossos vizinhos latino-americanos falam predominantemente espanhol, mas ainda não conseguimos estabelecer comunicação com o mundo que existe além de nossas fronteiras. Exemplo:



Mesmo professores universitários encontram sérias limitações para ler, escrever, falar ou entender inglês e espanhol. Aliás, até mesmo em cursos universitários de letras, com ênfase em inglês e português, há inúmeros docentes que não conhecem sequer o básico da língua que o resto do planeta fala.


7) Não existe política meritocrática em nossas instituições de ensino. Exemplo:



A falta de estímulo real a profissionais de alto nível se reflete como uso extremamente inadequado de recursos. Reconhecimento é considerado elitismo que, por sua vez, é tido como politicamente incorreto. Nem mesmo alunos superdotados são tratados de forma diferenciada, apesar de deficientes físicos e mentais terem acesso cada vez mais sistemático a educação inclusiva.


8) Ainda não percebemos que a família é a base social da educação de nossos jovens. O exemplo familiar de valorização da cultura é fundamental para que nossos filhos se sintam estimulados a exigir cada vez mais de seus mestres. Exemplo:



Se você sabe o nome original dessa escultura, bem como do artista que a concebeu, talvez esteja sintonizado com a cultura mundial e, portanto, pode ser um bom exemplo para seus filhos. Mas se nem o básico você conhece, que pelo menos procure estimular intelectualmente aqueles cujo futuro depende de seu exemplo como ser humano.


9) A cultura da centralização de políticas e estratégias educacionais naturalmente afasta a população de suas responsabilidades nessa área. Com isso não percebemos a contradição de que queremos educação competitiva, mas nada fazemos para conquistá-la. O futuro promissor que tanto se propaga em nossa nação somente é possível se tivermos liberdade para nossas próprias decisões. Exemplo:


O ENEM foi mais um golpe cruel contra o direito à educação. Se nossos filhos querem ingressar em uma universidade, que tenham esse direito por mérito, e não por selvagem e incompetente critério de competição que abstrai toda e qualquer noção de realidade local. Governos devem criar mais universidades e mais vagas! Mas governos não devem assumir a péssima postura superprotetora que isenta a responsabilidade do cidadão.

10) Educação reside na crítica àquilo que se crê já estabelecido. Precisamos questionar até mesmo o que parece adequado. Exemplo:




Se você quer saber mais sobre alguns dos tópicos aqui apresentados, leia os demais posts deste blog. E se compartilha com pelo menos algumas das ideias aqui colocadas, divulgue esta página. Não aceite o país como está, não aceite o que aqui se escreve! Apenas inicie uma discussão e assuma sua responsabilidade social e familiar. Educação é importante demais para ficar nas mãos de professores, autores ou governos. Todos os segmentos sociais devem participar deste processo ativamente, a começar pela família.